O idoso perde o seu valor para o Capitalismo, onde fisiologicamente se
torna inadaptável.
O texto abaixo, enviado pela leitora Lindalva Jesus Macedo, versa sobre o
“descarte” que negligencia os jovens e os idosos.
Papa no avião:
''Não à cultura do descarte''
A bordo do avião papal em rota para o Brasil nessa
segunda-feira, o Papa Francisco disse aos cerca de 70
jornalistas que viajavam com ele de Roma ao Rio de
Janeiro que ele quer que a Jornada Mundial da Juventude
inclua um foco maior sobre os idosos, também, lutando contra a cultura do
"descarte" que frequentemente negligencia as pessoas em ambas as
extremidades da vida.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no
sítio National Catholic Reporter, 22-07-2013. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Francisco não realizou uma coletiva de imprensa, dizendo sem rodeios:
"Eu não dou entrevistas". Ele falou sem anotações por cerca de cinco
minutos aos jornalistas a bordo do avião. O papa, em seguida, parou na frente
da ala econômica do avião por quase uma hora, cumprimentando cada jornalista,
um por um.
Antes das breves considerações do papa, o padre jesuíta Federico
Lombardi, porta-voz do Vaticano, pediu que um veterano
correspondente da televisão mexicana dissesse algumas palavras ao papa em seu
espanhol nativo, em nome dos órgãos de imprensa.
Valentina Alazraki Crastich, da Televisa, disse a Francisco que
os repórteres geralmente não são santos, ao menos do tipo religioso, e às vezes
podem ser como leões. Ela presenteou Francisco com um ícone de Nossa
Senhora de Guadalupe, tradicionalmente venerada como padroeira da América
Latina.
O que se segue é uma transcrição das considerações do papa, que
ocorreram cerca de duas horas depois da decolagem às 8h45min, horário de Roma. Francisco falou
em italiano.
Eis o texto:
“Bom dia a todos vocês! Disseram... eu ouvi dizer coisas um pouco
estranhas sobre vocês: vocês não são "santos da minha devoção" [a
referência é à saudação da jornalista Valentina Alazraki, que assim
havia definido os jornalistas no voo]. Estou aqui entre os leões, nem tão
leões, por enquanto... Mas obrigado. Realmente eu não dou entrevistas, porque
eu não sei, não posso... Para mim é um pouco cansativo, mas agradeço essa
companhia.
Esta primeira viagem é justamente para encontrar os jovens. Mas os
jovens não isolados da própria vida: gostaria de encontrá-los no tecido social,
na sociedade, porque, quando isolamos os jovens, fazemos uma injustiça: tiramos
deles o seu pertencimento. Os jovens têm um pertencimento, pertencimento a uma
família, a uma pátria, a uma cultura, a uma fé. Eles têm um pertencimento! E
não devemos isolá-los de toda a sociedade. Eles realmente são o futuro de um
povo, isso é verdade. São o futuro. Mas não só eles. Eles têm o futuro porque
têm a força, são jovens, irão em frente.
Mas o outro extremo da vida, os idosos, também são o futuro de um povo,
porque um povo tem futuro se vai em frente com todas as duas forças: com os
jovens, com a sua força, porque o levam em frente; e com os idosos, porque dão
a sabedoria da vida.
Muitas vezes eu penso que nós fazemos uma injustiça para com os idosos.
Deixamo-los de lado, como se não tivessem nada a nos dar, enquanto eles têm a
sabedoria, a sabedoria da vida, a sabedoria da história, a sabedoria da pátria,
a sabedoria da família. E disso nós precisamos.
Por isso eu digo que eu vou encontrar os jovens, mas no seu tecido
social, principalmente com os idosos. É verdade que a crise mundial não faz
coisas boas com os jovens. Eu li na semana passada os percentuais dos jovens
sem trabalho. Pensem que nós corremos o risco de ter uma geração que não teve trabalho.
Do trabalho vem a dignidade da pessoa, ganhar o próprio pão.
Os jovens, neste momento, estão em crise. Nós também nos acostumamos um
pouco com essa cultura do "descarte". Com os idosos, faz-se isso
muito frequentemente, e agora também se faz com esses muitos jovens sem
trabalho. Para eles, também chega a cultura do "descarte". Devemos
cortar esse hábito do "descartar".
Não. Cultura da inclusão, cultura do encontro. Devemos fazer um esforço
para trazer todos para a sociedade. É esse um pouco o sentido que eu quero dar
a esta visita aos jovens. Aos jovens na sociedade.
Agradeço-os muito, caríssimos "santos não da minha devoção", e
nem tão leões...
Peço-lhes que me ajudem nessa viagem, pelo bem, pela sociedade, pelos
jovens e, principalmente, pelos idosos, juntos, sem serem esquecidos. Agradeço
a todos. Estou um pouco triste como o profeta Daniel, porque vi que
na cova os leões não são tão ferozes! Obrigado, muito obrigado, e um abraço a
cada um”.
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