QUEM VIGIARÁ OS VIGIAS?
A solução passa pelo simples
policiamento, seja ele privado ou público?
É muito triste recebermos dos palpiteiros de plantão
“bons conselhos” — que são pérolas da pior conduta que se possa conceber, bem,
no estilo do “rouba, mas faz”.
Conselhos que incentivam esse “jeitinho” brasileiro,
preconizando o comportamento desonesto, que em sua essência mais banal, o faz
furar filas, furtar frutas nos supermercados, roubar sobremesas nos
restaurantes, colar nas provas, fazer “cachorro” no caixa quando o chefe não
está olhando, desrespeitar as leis de trânsito (quando não há vigilância) etc.
Em suma trapacear em toda e qualquer oportunidade que
encontrar.
Quando dou consultoria “in company” na área de
administração de conflitos, sou surpreendido pela realidade de que não são
poucas as corporações que investem massivamente em segurança interna, pois os
roubos praticados pelos funcionários colocam em risco a própria existência da
corporação.
Sejam públicas ou privadas, as corporações tem sido
alvos sistemáticos de verdadeiros “assaltos internos” onde, absolutamente tudo
que não estiver sendo vigiado “é roubado”; desde objetos de escritório até
segredos estratégicos.
É fácil arrumarmos desculpas:
— Os empresários exploram os trabalhadores;
— Os pobres precisam comer etc.
Mas as estatísticas apontam que não importa a classe
social ou a hierarquia do funcionário, o comportamento é sempre o mesmo.
Desde o porteiro que aceita propina para olhar para o
outro lado, até o diretor executivo que vende para concorrência os segredos
estratégicos.
E esse jeitinho se esgueira para a esfera política,
ganhando ares de “poderosos esquemas” concatenados para burlar as leis e roubar
descaradamente os cofres públicos, e em última análise, o bolso do
contribuinte.
E quem tiver a ousadia de apontar esses disparates é
acusado prontamente de “moralista” quando não de “ingênuo” ou otário.
Quando sou questionado sobre qual solução eu daria
para a questão, a minha resposta é sempre a mesma:
— Precisamos despertar urgentemente nosso senso de
humanidade.
Para que o nosso povo tenha acesso tanto ao pão do
corpo quanto ao pão do espírito.
Por que é indubitável que a miséria material seja um
das principais causas da miséria moral, porém, não é a única.
Talvez tenhamos que procurar mais no fundo de nós
mesmos.
E é interessante notar, que perante a roubalheira
desenfreada pela qual gira a vida pública brasileira os meios de comunicação já
não noticiam com tanta ênfase os “pequenos” roubos diários.
Não dá ibope.
Nosso condomínio, nossa casa, nossa empresa passa a
ser alvo diário de roubos internos e externos.
Será que a solução passa pelo simples policiamento,
seja ele privado ou público?
Será que para nos sentirmos seguros contrataremos
vigias e mais vigias?
Eu contraponho, com outro questionamento — esse muito
mais filosófico:
— Numa terra sem honra, quem é que vigiará os vigias?
------Autor: Mustafá Ali Kanso.
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